Cientistas estão testemunhando no nordeste de África algo que se imaginava ocorrer apenas ao longo das eras geológicas: a separação de um continente e o surgimento de uma nova bacia oceânica.
XAN RICE / The Guardian - Os nómadas ficaram aterrorizados. Durante uma semana o chão estremeceu violentamente. Fendas abriram-se no solo engolindo cabras e camelos. Uma fumaça sulfurosa saiu dos buracos. Depois de fugirem para as montanhas, os nómadas viram pedaços de rocha vulcânica serem expelidos "como enormes pássaro negros" e voar 30 metros no ar. Uma nuvem de cinzas em forma de cogumelo encobriu o Sol durante três dias. À noite, a nova cratera cuspia fogo.
- Eles já haviam experimentado terramotos antes, mas nada parecido com aquilo - disse Atalay Ayele, sismólogo da Universidade de Adis-Abeba, a capital da Etiópia, sobre as erupções que há 13 meses atrás abalaram aquela remota região do país, no nordeste de África.
Os cientistas etíopes sabem que a área é geologicamente instável, mas o número de tremores - 162 com mais de quatro graus de intensidade na escala Richter em apenas duas semanas - levava a crer que alguma coisa extraordinária estava acontecendo nas profundezas. Para resolver o enigma, pediram ajuda a colegas britânicos com acesso a tecnologia de satélite. O resultado foi surpreendente. Em pleno deserto de Afar, um dos lugares mais quentes e secos do planeta, os nómadas testemunharam o nascimento de um novo oceano. Imagens do satélite Envisat, da AgênciaEspacial Europeia (ESA), revelaram uma grande e profunda fenda na crosta terrestre, com 59 quilómetros de extensão e mais de oito metros de largura - o maior rasgo já observado desde o advento da monitorização por satélite.
Tim Wright, geólogo da Universidade de Leeds (Grã-Bretanha) que interpretou os resultados do satélite, ficou atónito.
- O que está a acontecer ali é um processo idêntico ao que resultou na criação do Atlântico. Se isso continuar, acredito que partes da Eritréia, da Etiópia e do Djibuti afundarão o suficiente para serem engolidas pelas águas do Mar Vermelho - disse. As descobertas causaram frenesim na comunidade científica. Equipas da Grã-Bretanha, França, Itália e Estados Unidos organizaram expedições a Afar, região descrita pelo explorador britânico Wilfred Thesiger como "a terra da morte".
Do alto, pode ver-se vastas línguas negras de lava cobrindo a areia do deserto e vulcões cor de ferrugem com suas aberturas. Há tantas fissuras e falhas que a superfície lembra a pele rugosa de um elefante. A geografia lunar reflecte o que está sob a terra. Afar fica na junção de três placas tectónicas, gigantescos pedaços de rocha que formam a camada externa da superfície terrestre. A placa da Núbia e a da Somália correm ao longo do Grande Vale do Rift, a grande depressão que se estende para o sul de Afar. Para o Norte, está a placa da Arábia. As placas tectónicas estão em constante deslocamento - ainda que a poucos centímetros por ano - acompanhando o movimento do magma sob a crosta. Podem colidir umas com as outras, empurrando a crosta para cima e criando as cadeias montanhosas - como aconteceu com o Himalaia. Podem deslizar umas contra as outras - como ocorre ao longo da falha de San Andreas, na Califórnia (EUA) - ou afastarem-se umas das outras, provocando a ruptura de continentes e formando os oceanos. Foi assim que o Atlântico se formou, na separação da África e da Eurásia das Américas. E é isso que, segundo os cientistas, está acontecendo em Afar, com a separação das placas da Arábia e da Núbia. Partes da região já afundaram mais de cem metros abaixo do nível do mar e apenas as terras altas em redor da depressão de Danakil impedem o Mar Vermelho de inundar a região.
A última grande "dilatação oceânica" ocorreu em Krafla, na Islândia, em meados de 1970. Mas o que demorou nove anos para ocorrer na Islândia consumiu apenas algumas semanas em Afar.
- Muitos imaginam que um fenómeno natural extremo como esse acontecia ao longo de eras geológicas. Mas aqui estamos vendo isso ocorrer bem neste momento, diante de nossos olhos - diz Cindy Ebinger, geóloga norte-americana que chefia as pesquisas em Afar.
Texto adaptado daqui
Isso quer dizer que aquele cenário apocaliptico dos continentes semi submersos, o desaparecimento da baixa califórnia, da nossa Lisboa e Ribatejo poderão ser possíveis?
bem, Jonas, nós andamos a tratar muito mal a Terra ( não a minha Terra)... podemos ter alguma surpresa. Gaia vive... conheces o mito?